sábado, 28 de setembro de 2019

Um ano e muitos meses depois

Estou digitando isso no meu mais novo trabalho.São quase nove horas da manhã, é um sábado chuvoso na capital Baiana. Me mudei no dia 15 de dezembro de 2018, para morar em um aconchegante apartamento em Salvador. Trouxe comigo muitas preocupações, conquistas pessoais e bagagens que não couberam no apartamento de 2 quartos, que apesar de amplo, carecia de móveis.
A saída de casa foi tranquila, apesar do movimento de perda de tudo que adquiri desde que comecei a trabalhar, aos 18 anos. Livros de grande estima, cama, escritório, materiais de estudo, tudo foi deixado para trás. Um movimento traumatizante e que me abalou por vários meses depois que decidi viver junto de uma pessoa que eu não conhecia até então.
Em setembro do ano passado, meu noivo me fez a proposta de nos mudarmos para Salvador. Eu estava cursando duas disciplinas na faculdade, a de TCC 2 e a de Estágio no Ensino Fundamental. Tinha retornado a trabalhar, ainda que como estagiário e recebendo R$600 por mês, iniciado uma rotina de exercícios em uma academia, estava com uma rotina de estudos fechada e com projetos de me mudar para Salvador apenas em agosto de 2019. Foi uma decisão difícil de ser tomada, especialmente por conta do prazo curto. Repassar para os familiares, correr para terminar um TCC em três meses, perder a orientadora, procurar uma nova que topasse o desafio, conciliar tudo isso com a rotina pré-estabelecida, abandonar uma série de projetos de estudo, esquecer de amigos e mínimos prazeres, correr atrás de vender muita coisa e juntar dinheiro... Para que no dia 14 de dezembro, eu deitasse pela última vez em uma rede, no quarto que até então era meu, fechasse meus olhos e dormisse profundamente.
Acordo com minha mãe me chamando para me aprontar. Café na mesa, banho tomado, aguardo minha irmã vir me buscar, saímos, buscamos meu noivo, nos despedimos daquela cidade que por tantos anos foi minha única referência de mundo. A despedida com a minha mãe foi tão rápida quanto todas as outras despedidas. Prometemos não chorar por conta disso. Eu a abracei, senti o cheirinho dos seus cabelos, entrei pelo portão de embarque e, por uma hora e meia, senti a ansiedade do voo.
Chegamos em Salvador. Fomos para a casa de minha cunhada, almoçamos e conversamos bastante para só no dia seguinte, irmos para o apartamento que iríamos viver. Era um sabor agridoce, de ter conquistado a independência, junto do amargo sabor da solidão e do desalento.
O apartamento só possuía a geladeira, os armários de cozinha e do quarto, a máquina de lavar roupa e um fogão doado pela minha cunhada. Era vazio ao ponto de fazer ecos por todos os cômodos quando se falava da sala.
A cama demorou bastante tempo para chegar, assim como qualquer tipo de conforto para se declarar aquele ambiente como um lar. Foi complicado administrar um lugar quando se está em séria instabilidade emocional.
No dia 17 foi o único dia livre que tive para sair às compras e procurar utensílios domésticos que me servissem para poder usar na casa: panelas, travessas, pratos, copos, louças, toalhas, roupa de cama, talheres... E mesmo com uma lista em mãos, ainda faltou coisas pequeníssimas que só fomos dar falta no fim.
Fizemos as compras da casa. Compramos muita coisa inútil, que até hoje só estão a ocupar espaço na casa.
Depois, foram semanas comendo no chão, dormindo no chão enquanto a cama não chegava e sem acesso à um computador por falta de uma mesa em que se pudesse colocá-lo.
Dia 18 de dezembro, eu já começava a trabalhar no meu novo emprego, como recepcionista em um consultório veterinário. Outra mudança dramática na minha vida. Iniciar a vida em um emprego no qual não tinha qualquer experiência e trabalhar diretamente com um público que sempre tive problemas para lidar, adultos.
Vieram os festejos, os problemas para administrar alimentação, contas, limpeza e saúde... acabei fracassando em todos eles.
Criei um calendário semanal de afazeres, esperando obter ajuda de meu marido, mas tudo que tivemos nos primeiros meses foram grandes brigas para se adaptar aos costumes e hábitos um do outro.
Desisti e tive graves crises de identidade, ansiedade e até depressivas por conta disso. Chorei bastante por não ter capacidade de administrar a nova vida que estava levando. Lavar, cozinhar e organizar, tudo sozinho foi algo frustrante. Ainda por cima, em março do mesmo ano, tive a brilhante ideia de adotar uma cadelinha. O que acarretou em uma companhia mais acolhedora, porém em muitos desgastes, na relação como no bolso. Ela continua conosco, e como primeira fêmea da casa, recebeu o nome de Evita.
Acertamos em contratar uma diarista para realizar o trabalho de limpeza e organização da casa por pelo menos uma vez na semana. Já quanto a comida e manutenção, aos poucos, temos compartilhado a obrigação.
Prestei concurso para o cargo de professor de ensino fundamental I, 20 horas no dia 09 de Junho, obtive aprovação nas duas primeiras fases, porém com uma colocação baixa, agora aguardo ser convocado para os testes psicológicos e para por fim saber se serei convocado ou não para voltar a docência.
Por conta disso, aguardar essa situação de aprovação ou não aprovação me colocou a criar outros projetos e a me deixar ainda mais confuso.
Sigo, então, desde o começo do mês de agosto com uma atividade em dupla, com uma antiga colega de trabalho, que se encontra em situação equivalente à minha, para que possamos explorar nossos sentimentos e confiar ao outro situações que não podemos expor para nossos cônjuges.
Para quem estiver lendo no momento, há muita coisa ainda a ser exposta, mas fico feliz em ter retornado à esse espaço onde posso descrever o que vem ocorrendo na minha vida.
Sigo lendo, jogando, malhando e pouco estudando... o que talvez deva ser remediado o quanto antes. Temo me tornar um estúpido.
Lendo: O Último Desejo.
Estudando: Noções básicas de administração

Nenhum comentário:

Postar um comentário